Quando Saiko Izawa chegou ao Brasil, diretamente do Japão, aos 15 anos, ficou impressionada com as pessoas preparando bolos em assadeiras e levando de presente para amigos e familiares. “Aqui se come doce todos os dias. No Japão, não é assim”, disse à ELLE numa das mesas do restaurante paulistano

A Casa do Porco, onde seu trabalho lhe rendeu o título de Melhor Chef Pâtissière da América Latina dentro da premiação do 50 Best Restaurants de 2017. A mudança de país fez com que ela desenvolvesse um hábito que se tornaria sua profissão. “Comia bolo à tarde na casa da minha professora de português e comecei a pedir a receita e repetir em casa”. Ainda no Japão, morando no interior, ela costumava preparar pães para a família e aprendia com o pai a identificar os alimentos comestíveis na natureza e a limpar peixe.

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Crédito: Rafael Jacinto

Foi nesse último que conheceu Jefferson Rueda, que anos depois abriu A Casa do Porco. “Ele me dá total liberdade. Isso cativa, faz com que eu estude mais, pesquise mais, para não desapontar o chef e os clientes”, diz com a dedicação e a calma que lhe são características. Saiko cria sobremesas conectadas com o cardápio, como a imperdível sopa de morangos com salsão e sorbet de manjericão. Sem se esquecer das mais açucaradas. “Aqui as pessoas gostam de comer bem e finalizar com sobremesas mais doces, com chocolate. Procuro atender todo mundo bem”, diz sobre suas seis criações do cardápio – além dos pães do restaurante, que são todos preparados por ela e por sua equipe. Este semestre, Saiko passou um mês com Jefferson no Japão – país que ela visita pelo menos uma vez por ano – para apresentar a culinária oriental a ele. E também refrescar as ideias para o novo projeto da dupla: uma loja que vai servir o famoso hot dog do restaurante e uma sorveteria. Ambos na Rua Epitácio Pessoa, 94, próximo à Casa do Porco. “Vou fazer um sorvete mais leve, que ainda não existe aqui, com frutas brasileiras. Um pouquinho mais moderno, não convencional”, diz. Os espaços devem abrir as portas no começo de 2018. Saiko também deseja lançar um livro com receitas com ingredientes brasileiros para ser lançado aqui e no seu país de origem. “Me considero japonesa e brasileira. Quero divulgar as coisas boas daqui no Japão”.

Quando se tornou mãe de dois meninos, ficou incomodada em não encontrar todos os ingredientes bem descritos nas tabelas nutricionais da época. “Me sentia insegura de dar essas coisas a eles. Tinha corante, conservante. Então comecei a preparar tudo eu mesma em casa”, lembra. A produção foi dando cada vez mais certo e ela passou a aceitar encomendas. “Eu fazia todo dia a mesma coisa, insistindo, aprimorando. Fiquei 15 anos trabalhando em casa e não pensei em chegar aonde estou hoje. Não comecei ontem. Tenho um caminho longo”. Houve um momento em que ela sentiu que precisava se aprimorar. Fez então um curso clássico no Le Cordon Bleu, em Paris, e um estágio na Comus, uma padaria em Tóquio. Profissionalmente, trabalhou no Le Meurice, em Paris, no D.O.M., em São Paulo, no El Celler de Can Roca, em Girona, e no Attimo, em São Paulo.

Por: Laura Calvi Anic
Fonte: Elle