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Letras Garrafais: Tendências para 2018, por Pedro Mello e Souza

por | dez 29, 2017 | Bebidas, Enologia

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Volta e meia, surgem nas redes sociais notas de revistas estrangeiras sobre vinhos abordando uma questão sempre temerária, as tendências. Dias atrás, em duas delas, tive de checar direitinho para ter certeza de que não era piada. Não eram. Um texto dizia que a “tendência” para fazer com que o vinho respire mais rapidamente, e garantir assim a evolução rápida no copo, era bater o conteúdo de uma garrafa no liquidificador.

Contei a ideia a Claude Troisgros, e antes mesmo de perguntar o que ele achava, ele já se dobrava na cadeira, e batia na mesa de tanto rir. Depois, contei outra: a que diz que, em 2018, vai proliferar um método novo de degustação, o vinho com sal. Há opções do sal na borda do copo, como um saquê, para que o contraste da bebida e o condimento cheguem ao seu limite extremo. Ainda rindo, nosso chef imaginou que, já que é para encarar a piada, podemos por esse sal em um pratinho, quem sabe com uma carne do lado, talvez passando a carne levemente na frigideira. Ou seja, estão quase reinventando o prato e a culinária.

Recorri a Troisgros após ler, na revista “Ela”, que ele deixou a paixão e as memórias de infância de lado para, em vez de trazer os vinhos com a marca da família, de sua região, a Côte Rouannaise, fazer parcerias com produtores brasileiros. O escolhido, o lendário Adolfo Lona, servido somente ali, só na taça. Com essa ideia, isso sim, uma tendência, ele dá liberdade à clientela, com produtos made in Brazil e, como se sente nos copos, quality in Brazil.

A ideia da taça não é nova, mas será sempre tendência. No Giuseppe, Marcelo Torres lançou essa ideia ainda nos anos 90. Depois, vieram casas como o Vino Club, a primeira a ter uma Enomatic, que serve taças em diversas doses, ampliando ainda mais o leque de opções de degustações. Depois, o Bazzar, que pôs os champanhes raros e os caros vinhos de sobremesa nessa fórmula. Ideia antiga, repito, mas sempre uma tendência.

Lá fora, uma tendência que pode chegar aqui: os champanhes (de Champagne mesmo) de supermercados. Por enquanto, as taxações e a a fixação dos clientes por marcas ligadas ao luxo impedem a chegada da ideia, que já está tão em alta nas prateleiras londrinas que a revista “Decanter” organizou um painel com os melhores degustados às cegas.

Resultado: marcas absolutamente desconhecidas, como Les Pionniers, Tesco, Bissinger, Philizot, Salisbury e Henri Delattre, ganharam pontuações iguais ou superiores a rótulos badalados. Por trás dessa conta viável, as negociações, os preços mais amigáveis dos pequenos produtores, a facilidade do transporte. Distante, mas, de todas as tendências que cito aqui, é as mais próxima da realidade.

Outra tendência, que nossos companheiros do Mercosul celebram, mas que, de novo, esbarram na alegria brasileira diante de referências confortáveis. Cito logo as três: o tannat uruguaio, o malbec argentino, o carmenère chileno. A tendência desse fenômeno eno-sociológico está no esforço de nossos vários hermanos de explorar uvas novas e paladares frescos. Já brilham entre nós rótulos como o argentino El Enemigo Cabernet Franc (R$ 150, na Mistral), o chileno Morandé, com a uva carignan (R$ 219, na Grand Cru) e o uruguaio Bouza com a branca albariño (R$ 159,60, no site da Vino Mundi). São três exemplos de como as tendências chegam com elegância, sem a necessidade de exageros, como o liquidificador, e vão nos alegrar mais do que o sal no copo, que tanto divertiu Claude Troisgros.

Fonte: O Globo

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