Lucas Corazza, 33 anos, é conhecido Brasil afora devido à sua exposição na televisão com o programa Que seja doce, da GNT. Mas sua atuação com confeitaria não se resume às gravações. O jovem empreendedor, dono de um food truck que circula por eventos de São Paulo, diz que a presença fora da telinha é um diferencial de quem trabalha com gastronomia e comunicação atualmente. “Até um tempo atrás, se tinha culinaristas na TV. Agora, se têm pessoas com restaurantes, que vivem a prática”, compara.
Lucas usa essa sua visibilidade para defender o papel do cozinheiro e dos ingredientes locais. “A confeitaria tem de começar a assumir um lado político, usar o chocolate brasileiro. Nosso país é o sexto produtor de cacau do mundo”, considera.
O chef afirma confrontar o que chama de “pavimentação” da comida. Ele cita grandes redes, como o Outback, para exemplificar o fato de que seus pratos têm sempre os mesmos sabores – o que não seria natural na cozinha. “Esses restaurantes pensam em como vender melhor a comida. Não em como alimentar melhor o cliente”, expõe. “O cozinheiro e o chef não vão conseguir sobreviver se não tiverem argumentos sobre essa pavimentação”, sentencia.
Durante evento de inauguração da expansão do complexo gastronômico da UniRitter, no campus Fapa, em Porto Alegre, Lucas Corazza ainda se mostrou cansado do fato de as listas de melhores restaurantes e chefs sempre apontarem nomes recorrentes. “Há anos estão os mesmos ali. Quero um modelo de negócio novo. O meu lugar eu já consegui. Se eu não deixar o novo entrar, não me consolido”, examina. Nesta entrevista, ele também dá sua opinião sobre comida de rua no Brasil.
Entrevista
Como você virou empreendedor?
Comecei em 1997, quando a minha família passou por um revés econômico, vendendo pão de mel e bala de coco no colégio. Acreditava que faria aquilo enquanto estivesse no colégio e depois faria faculdade. Iniciei Direito e Hotelaria, mas não segui nenhuma das duas. No primeiro ano, já estava dentro de uma cozinha e percebi que tinha que trabalhar com as mãos. Depois, fui acumulando um conjunto de habilidades: como comunicação e criar receitas. Somando, são 18 anos de cozinha, mas na cozinha profissional, 15. Eu passei por todas as fases, comecei vendendo, fui trabalhar em restaurante e depois do restaurante fui começar a virar minha própria empresa. Aí, me tornei um administrador de carreira, um chef de cozinha, um food truck, viajante, palestrante e apresentador de programa de televisão.
Nos conte mais sobre seu food truck e o que considera desse mercado.
Uso ele para grandes eventos. Eu não acredito que no Brasil o estilo comida de rua tenha pego fora de festivais ou fora de eventos específicos. Os bons permanecerão, e talvez o brasileiro deveria reavaliar sua postura: a comida de rua ainda é uma opção democrática. Como peguei o food truck no começo (da febre), ele se pagou e deu lucro. Agora, utilizo como estrutura de loja pop-up e não como food truck de colocar na rua.
Por que a pavimentação do sabor é um risco para os chefs?
Isso pode matar toda a classe social de alunos (de gastronomia). Porque não importa quem está fazendo a comida. Eu não preciso de criatividade, de empreendedorismo. É uma fórmula, um modelo.
Onde está a novidade na gastronomia, então?
No sangue antigo. As pessoas têm de ter a habilidade de reconhecer nos outros genialidade, inteligência, criatividade e se colocar num lugar, não de referência ou exemplo, mas de guia.
De: Mauro Belo Schneider
Foto: Mauro Belo Schneider
Fonte: https://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/05/ge/noticias/563334-lucas-corazza-acha-que-comida-de-rua-nao-pegou-no-brasil.html
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