Preparar pratos criativos e saborosos é um trabalho árduo. Uma mistura que requer dom, treino e muito amor pelo que se faz, dizem especialistas que ganham a vida com a arte da culinária. No Dia Nacional do Chef de Cozinha, comemorado em 13/5, dois cozinheiros ouvidos pelo G1 contam os desafios da profissão.
Formada em gastronomia há 4 anos, Talita Rodrigues Prospero, de 27, disse que trocou a ‘pressão de trabalhar na cozinha’ pela sala de aula. Em busca de um horário mais flexível, há cinco meses ela abriu uma escola em São Carlos (SP) para ensinar adultos e até crianças de 7 a 14 anos. Os pequenos aprendem um pouco de tudo: fazem tortas, bolos, cupcakes, massas frescas e pães.
“Desde que me formei comecei a dar aulas. Essa área sempre me agradou muito porque não precisa trabalhar de fim de semana e feriados. Tem pessoas que estudam gastronomia e não têm noção de como é o mercado e quando saem do curso ficam um pouco decepcionadas. Se a pessoa quer se profissionalizar, só treinando ela consegue, porém fica mais fácil se ama o que faz”, disse.
Sonho de infância
O amor pela gastronomia veio da infância, quando via a mãe e a avó cozinhar. Talita descobriu que havia um curso para aprender e decidiu tentar. Ela até chegou a cursar nutrição, mas ainda não era o que queria. Segundo ela, no começo houve um pouco de resistência por parte da família. O pai não aceitava o fato de ela atuar na cozinha durante muitas horas e não ter tempo para se divertir.
“Com o tempo, eles viram que eu gostava e aceitaram mais. Minha vó até me apoiava, mas não entendia direito como era a profissão. Quando entrei no mercado, ela e minha mãe ficaram um pouco decepcionadas porque trabalha-se muito e ganha-se pouco. Tem que ter amor, não é só dinheiro. Não adianta entrar para essa área achando que vai ficar rico. A maioria das pessoas que conheço ama o que faz, senão não estaria ali”, contou.
Valorização e machismo
Talita disse que além da falta de valorização da profissão é preciso lidar ainda com a resistência de alguns funcionários ao tentar uma oportunidade em restaurantes. “Isso é complicado porque ninguém sai formado chef de cozinha, saímos como cozinheiro. Chef você se torna a partir do momento que aprende a lidar e administrar as partes da cozinha. Chef não é só saber cozinhar, é saber trabalhar dentro de uma cozinha e isso nenhuma faculdade te ensina, você aprende na prática”, declarou.
Outro problema, segundo Talita, é o machismo contra as mulheres na cozinha. “Falam que mulher não aguenta a pressão. Percebi isso no mercado. O primeiro chef que tive mandou eu rasgar meu diploma. Você via que era um pouco por causa do preconceito. Mas há muitas chefs se destacando na profissão, principalmente em São Paulo”.
Influenciado pela avó
O chef Rafael Torquato, de 25 anos, já trabalhou em restaurantes de Rio Claro e São José do Rio Preto. Atualmente atua na área da confeitaria e também faz massa congelada sob encomenda em Araraquara, cidade onde mora.
O amor pela gastronomia também vem de infância, influenciado pela avó libanesa que sempre preparava um banquete em casa com pratos variados. “Aprendi a fazer junto com ela e quando falei que queria estudar ela deu o maior apoio”, contou ele, que se formou há três anos.
Para Torquato, um bom chef precisa ser criativo para fugir da mesmice. Segundo ele, ao estudar gastronomia aprende-se um padrão e é preciso muito treino para aperfeiçoá-lo. O talento também é necessário para inovar.
“Quando se faz gastronomia, esperam de você um super prato. Isso é uma pressão positiva, para você fazer sempre o melhor. Na minha área tenho que servir uma comida gostosa e o desafio é a cada prato”, disse.
Em meio aos desafios entre longas horas de trabalho, Torquato diz que a profissão no Brasil ainda não é também bem remunerada quanto deveria devido à falta de valorização e oportunidades, principalmente em cidades do interior. Ainda assim ele se mantém firme no sonho e trabalha para se tornar um chef renomado.
Por: Fabio Rodrigues e Raquel Baes, G1 São Carlos e Araraquara
Fonte: G1
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