» Início » Colunistas » O valor da profissão do gastrônomo

O valor da profissão do gastrônomo

por | maio 28, 2018 | Colunistas

Receba o conteúdo do Sabor à Vida!

Incríveis artifícios como o status, a exposição à mídia, a ideia de enriquecimento rápido, o reconhecimento alheio sem critério técnico profissional, o ego massageado, o networking com interesses gananciosos e maquiados são, atualmente, asserções que acometem aos profissionais de culinária, nutrição e gastronomia à um jugo de reconhecimento instantâneo idealizado por estes.

A profissionalização de um gastrônomo entremeia a formação técnica, a experiência no ramo, a resiliência perante conflitos no relacionamento com os colegas de equipe, clientes e condições de trabalho, talento e principalmente BOM SENSO.

Bom senso de compreender o valor poético viril e a responsabilidade de um cozinheiro implícito no ato de cozinhar. Estampado na fundação do exercer de nossas profissões a dignidade sempre deveria prevalecer! Nós cozinheiros, arautos sejamos de que o ato de se alimentar está antecipadamente associado não à vontade de comer. Não à lembrança de ingerir algo devido ao incômodo da gastrite, não porque frustrados, tristes, ansiosos, nervosos ou extremamente contentes estamos. Não! Nem porque dietas fazemos ou porque estamos em horário de almoço, Não! Nem tão pouco porque queremos ganhar dinheiro porque vender comida é super rentável afinal ‘todo mundo precisa comer’, não por isto, Não!

Relacionado está à associação, ao primeiro conceito profissional, em sermos protagonistas verdadeiramente apaixonados e honrosos com aquilo que preservará a manutenção do sistema biológico de quaisquer indivíduos que se satisfazerem de nossas preparações culinárias. O respeito pela comida, o cuidado e profissionalismo na higienização dos alimentos, o critério rigoroso na manipulação e no local de produção e serviço da comida, a dedicação e sinergia positiva
deposta na receita, fazem-se aspectos mais que relevantes e, sim, imperiosos. Seja lá quem for comer, desde autoridades influentes até pessoas supridas por eventos beneficentes. Não há desmerecimentos ou diferenças. Todos possuem o mesmo nível de importância nesta visão. Ou seja, o cuidado pela VIDA alheia.

Não há indiferenças, isto justamente para preservar a proposta de que ser trabalhar com competência, profissionalismo, realismo, autenticidade, benevolência e carinho não excluem características como empreendedorismo, liderança, visão de negócios ou oportunidades de inovações culinárias. Necessário se faz o reconhecimento destes critérios pelos convidados, clientes e consumidores de gastronomia e nutrição.

A dificuldade de se reconhecer valores realmente importantes para o relacionamento entre pessoas e a prestação de serviços na área gastronômica é eminentemente crescente. Reflexo obvio justamente da falta de requisição dos mesmos estimulados pela ausência de senso crítico e visão superficial da vivência de experiências de vida e da vida.

Contudo, há uma poderosa situação que implica na restauração deste convívio pacífico e revitaliza potencialmente a arte gastronômica em quaisquer circunstâncias que é a doação. Utilizar mais que ingredientes na receita, mas sim depositar toda a positividade possível em torno de todo o processo, desde a escolha dos ingredientes, modo de preparo e ambiente de serviço. Carinhosamente relevar situações desconfortantes e desnecessárias. Sorrir. Cantarolar mentalmente. Pensar o Amor. Executar a paixão. Redirecionar pensamentos tristes. Desestimular atos negativamente implicantes na desconstrução da receita e do serviço. Valorizar os momentos, somente, os bons. Estimular e sentir a PAZ. Ferir-se menos, recuperar com alegria o fatídico.

Evidente cada vez mais fica que quanto mais surpreendente é a comida e a experiência culinária gastronômica mais ainda surpreendente é o ser humano que protagonizou tal situação. E, desgraçadamente, mais raro se torna a possibilidade de encontrá-los!


Davi Furigo de Melo

DAVI FURIGO DE MELO

Chef e professor. Graduado em Gastronomia no Senac Águas de São Pedro. Proprietário da Paladares, em Campinas/SP.

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pacotes de Viagens